Destaques de um reisado secular

Por Teddy Fontes

Há uma distância de 62km da capital Aracaju, o povoado Marimbondo localiza-se na cidade de Pirambu e possui uma manifestação cultural familiar com mais de dois séculos de tradição. O Reisado de Marimbondo é conhecido em todo estado de Sergipe e já fez apresentações até no estado de São Paulo.

A maioria dos reisados do país tem maior destaque de suas apresentações durante o período natalino, especificamente nos meses de dezembro e janeiro, porém o Reisado de Marimbondo, segundo o mestre Sabal, tem destaque durante todo o ano, graças as apresentações feitas em eventos, festivais e convites que recebem de prefeituras e entidades defensoras da conservação da nossa cultura.

Personagens e participantes

Satisfação no que faz é visto nos 
olhos das mulheres do Cordão Verde
(Foto: Dandara Prado)

O responsável pelo reisado é o senhor Antônio dos Santos, mais conhecido por Mestre Sabal e, junto com ele como participantes, oito filhos, noras e netas, e sua mãe Ismênia, cinco gerações presente no folguedo. A professora Aglaé Fontes, pesquisadora da Cultura popular sergipana cita como principais personagens do Reisado de Marimbondo : palhaço Mateus, Dona Deusa, Boi, Baronesa (Dona Ismênia – mãe de Sabal), Contra-mestre, sereia, caboclo, camponesa, rochinha, papagaio, beija-flor, nambu, andorinha, passarinho, curiatá. A banda acompanha o reisado é composta por Beto de Sabal (acordeon), Elenilzo Brancão (azabumba), Messias (triângulo), Gi (pandeiro) e Naninho (cavaquinho).

O Mestre Sabal comanda a apresentação como o personagem, Palhaço Mateus. “...no reisado ele é o mestre, então a gente obedece ele das duas partes, como pai e como mestre, o dono do reisado”, afirma sua filha Cristiane. A Dona Deusa é encenada por Dilma, filha do Mestre Sabal. Ela fala sobre a diferença entre o pai Sabal e o Palhaço Mateus: “A diferença é que quando ele está fardado, é como se diz no ditado, nós briga né? Mas quando ele não tá fardado, é meu pai “.

Um personagem de grande destaque e sucesso na apresentação do reisado, principalmente com as crianças, é o Boi, encenado por Edney, filho de Sabal. Ele explica como começou a participar do reisado: “O meu pai desde cedo, com dez anos, que brinca reisado e, através dele na idade mais ou menos dez também, oito por aí assim, já me envolvia no reisado acompanhando. Depois fui aprendendo tocar, tocar triângulo, depois partir pra dançar o Boi e hoje continuo dançando o Boi”. No antigo Egito, havia o culto ao Deus da fertilidade, representado por um boi, o qual morria e ressuscitava e, esse personagem foi adicionado ao reisado pelos escravos africanos trazidos ao Brasil, explica Aglaé.

O reisado de Marimbondo é formado por mulheres divididas em dois grupos: Cordão Verde e Cordão Vermelho, no qual a diferença é vista pela cor de seus trajes. Entre elas o destaque é a Dona Deusa que usa um vestido mesclado vermelho e verde, além de ficar sempre ao centro. Os homens participam apenas da banda que acompanha, com exceção do mestre Sabal que encena o Palhaço Mateus.

Apresentação

Expressão de alegria no rosto das 
participantes do Cordão Vermelho
(Foto: Dandara Prado)

Tem início com a cantiga Meus senhores boa noite. “Por fazer parte do nascimento do menino Jesus, menino Deus no Natal, parte do Natal “, como afirma o Mestre Sabal. Durante a festa, acontece uma guerra de espadas. Um dos destaques é a dança individual de cada figura do Reisado, começando com Dona Deusa e encerrando com Dona Ismênia. A cada catinga, uma mulher do grupo vai ao centro dançar a música da sua personagem.

Sabal descreve que uma das partes mais interessantes do Reisado é a disputa das Bandeiras:  a primeira mulher de cada lado levanta uma bandeira da cor do seu vestido e pede ao público ofertas em dinheiro. Depois abaixam as duas bandeiras e o povo começa oferecer dinheiro para subir a bandeira da cor que está torcendo. A bandeira que receber o maior valor, vence. O Palhaço Mateus ordena a bandeira que ficou arriada que vá embora. Recolhe-se o dinheiro oferecido e começa outra cantiga.

O Mestre Sabal informa que a apresentação completa do seu reisado tem uma duração de cerca de dez horas sem repetir sequer uma cantiga, porém ele afirma: “Desde que inventaram a Cultura, isso acabou-se, eles nos dão apenas 15 minutos para se apresentar, aí não consigo mostrar nem metade, da metade, da metade do reisado. Eu tenho que fazer uma apresentação rápida das cantigas principais”.