Por Julian Reis
A energia de quando era pequeno continua pulsante até hoje. Antônio dos Santos, mais conhecido como Sabal, que não bebe e nem fuma, é uma das maiores representações da cultura popular sergipana. Para quem já viu uma brincadeira sua, pode concordar que as suas maiores características são a risada contagiante e uma energia sem igual quando ele começa a dançar. Um vigor que impressiona já que está no auge de seus 69 anos diz que não pretende parar, só quando Deus chamar.
Gerações
O Reisado de Marimbondo existe há 211 anos, foi criado pelo seu bisavô, Luiz dos Santos, em 1805 e é composto por 30 integrantes da sua família, inclui sobrinhos, irmãos, esposa e a mãe de seu Sabal. No povoado Marimbondo, no município de Pirambu, o Reisado resiste às dificuldades e continua afinado com sua batida forte de gerações. A cada ano que se passa, a brincadeira fica mais esquecida, porém o grupo não desanima e continua resistindo, não poderia ser diferente, já que todos os componentes do grupo usam como espelho a força do mestre que com sua alegria não deixa a peteca cair.
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Todos os 30 participantes do Reisado são da família Dos Santos.
(Foto: Dandara Prado) |
Dona Ismênia representa a geração mais antiga no reisado, foi ela que levou Sabal para a brincadeira. “Comecei a botar esse meu filho, para brincar o caboclo quando ele tinha 16 anos de idade, e vi que ele tinha jeito, é como falam, vem de família”. Antônio junto com sua mãe que já está com 93 anos puxam as cantigas e ela segue cantando como se ainda fosse uma garota. O maior orgulho do Mestre é que sua mãe mesmo não sendo mais tão lúcida, ainda lembra de outras épocas. E diz com toda certeza e propriedade de quem já passou por muitas mudanças “Reisado como o de antigamente não fica mais um no mundo. Já brinquei muito. Antes a gente saia na sexta e só voltava na terça. Meu irmão fazia o caboclo. Eu já fiz a baronesa, a andorinha e a sereia, hoje vejo meus netos seguindo aprendendo e participando”.
De acordo com Sabal, o Reisado surgiu na sua vida desde menino, quando acompanhava a sua mãe dona Ismênia. “Com 16 anos assumi o Reisado, mesmo sem a confiança da minha mãe, porque ela achava que eu não iria dar conta da responsabilidade, mas estou aqui até hoje”, relembra o sorridente autodidata. Segundo Mestre Sabal, ele não pretende deixar o grupo, mesmo já sentindo as dores da idade, mas ele deixa bem claro que todos os filhos estão preparados para assumir seu lugar. “É só eu falar com qualquer um que não posso apresentar naquele dia, que eles próprios se organizam e sabem fazer o Matheus”. Ele demonstra todo o seu orgulho em saber que mesmo na dificuldade sua família está ali seguindo seus passos com toda a alegria, já que todos participam do folguedo de livre e espontânea vontade.
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Árvore genealógica da família Dos Santos
(Por: Julian Reis) |
José Alberto, o Beto de Sabal, é o filho mais velho e é responsável pelos toques e melodias da sanfona. Ele diz “Eu aprendi mesmo a tocar no Reisado, só vendo como se fazia, mas lembro que meu pai me batia com um cipó para eu não dormir durante as apresentações, que duravam a noite toda”, Beto conta com alegria, relembrando ainda que quando aprendeu a tocar sanfona tinha cerca de cinco anos de idade. Beto de Sabal ainda tocou o acordeon com o um outro grupo musical, mas sem abandonar o Reisado de Marimbondo, segundo ele a experiência ajudou a melhorar a técnica. Ele explica que já sabia tocar, porém aperfeiçoou suas habilidades para apresentar no Reisado conta orgulhoso da herança familiar que carrega.
De acordo com Dilma dos Santos, que faz a Dona Deusa no Reisado, e é a filha mais velha de Sabal, seu pai nunca forçou nenhum de seus filhos a participar da brincadeira, todos sempre demonstravam interesse sozinhos, “Eu digo por mim, desde que me conheço como gente que lembro de estar dançando, e hoje fico feliz em ver minha filha seguindo meus passos, e tenho certeza de que ela será a próxima Dona Deusa”. O orgulho fica evidente nos olhos dela em falar do Reisado e da importância que ele tem na história de sua família e dos moradores do povoado de Marimbondo.
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A alegria do Reisado de Marimbondo
(Foto: Dandara Prado) |
Infelizmente os recursos estão escassos, e hoje o Reisado de Marimbondo é mantido apenas com o trabalho do Mestre Sabal com suas vendas na feira e com o dinheiro de sua aposentadoria, mas o interessante é que mesmo na dificuldade, a família dos Santos continuam fazendo projetos para o futuro e as próximas gerações.
As características não se perdem mesmo no passar dos anos, e vemos que essa dificuldade não aflige as novas gerações, isso fica bem claro quando paramos para pensar, que é um folguedo totalmente familiar, começou com o bisavô Antônio, passou para Dona Ismênia, seguiu para Sabal que já deixou todos os seus filhos preparados, ainda temos a Dona do Baile Dilma sua filha, Beto que será o possível Mateus e que já tem seu filhos também participando do folguedo. É uma brincadeira de alegria, cultura e arte, que já está na sua quinta geração e que não pretende parar, já que a energia e o sangue caboclo como diz um dos cânticos do reisado, são mais fortes, igual ao de um guerreiro.
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