quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Reisado familiar e autêntico sobrevive há duas décadas

Por Yslla Vanessa


Com 211 anos de história, o Reisado de Marimbondo é o mais velho de Sergipe, o único formado exclusivamente por componente de uma só família. O grupo já conta com membros da quinta geração familiar e guarda lembranças. Por ter uma ligação religiosa, o reisado trabalha com o boi, elemento principal que em cena remete a ressurreição de Cristo, um símbolo de renascimento, da vida e do reisado.

Nem mesmo a família Dos Santos sabe explicar o que os move. Pode perguntar a qualquer um deles o que os levam a dançar e eles vão dizer simplesmente que gostam de “pisar”. Tudo fica claro quando a apresentação começa. Do mais velho ao mais novo, é impossível não notar o sorriso no rosto e os olhos brilhando de felicidade. A resposta fica logo óbvia: É o amor.
História
Tudo começou quando em 1805, Luiz dos Santos deu início a tradição com o intuito de festejar o nascimento do menino Jesus através de uma manifestação popular, deixada no Brasil pelos Portugueses. Com a sua morte, o Reisado passou para as mãos de sua filha, Ismênia, deixando a responsabilidade em dá continuidade a tradição. Ela decidiu não deixar morrer o amor cultural, deixada por ele, o objetivo era de continuar a se apresentar, com toda dedicação, mesmo sem a presença do Senhor Luiz.
Com  93 anos, Dona Ismênia ainda participa
das apresentações do Reisado. 
(Foto: Dandara Prado)
Por ser mulher, Ismênia não podia assumir o papel do Palhaço Mateus e consequentemente de Mestre. Com isso, foi preciso contratar um homem para assumir o papel. A decepção aconteceu quando ele começou a beber demais, até durante as apresentações, fazendo o grupo passar vergonha. Ao ver todo o sofrimento da mãe, mesmo com apenas 16 anos, Sabal assumiu o lugar de Palhaço Mateus e de Mestre. Hoje, nessa nova geração, a cultura está sobe a responsabilidade de Antônio dos Santos, que brinca e canta, tendo como característica uma risada marcante.
A ideia de tornar o grupo uma tradição familiar deu certo. Resistindo a exatamente cinco gerações, incluindo sempre um integrante a mais, fazendo assim com que o grupo viva intensamente o conhecimento da tradição é denominado o Reisado de Sabal. Pai, filhos e netos, cada um com um papel nas manifestações. Dona Ismênia, por exemplo, era a dona Deusa, a mulher que tinha uma vestimenta diferente, sendo mais destacada, também, por interagir e dançar ao lado do mestre.
A família Dos Santos é composta por mais de 30 pessoas, sendo homem e mulher. Destes, os homens que fazem parte do Reisado tocam instrumento, como zabumba, triângulo, sanfona, e cavaquinho. Além de filhos e netos, tio de Antônio, também é integrante do folguedo. Em suas apresentações, o repertório musical é antigo, herança também familiar. Sabal conta que “ As músicas são composições do seu bisavô. Nós fizemos apenas uma nova, que chama-se Reisado de Marimbondo" destacou, alegremente, o mestre Sabal.
Mesmo com algumas dificuldades para manter esta tradição, por falta de recurso, o grupo se mantém a todo vapor, levando para algumas cidades, o significado do reisado, que sempre se renovará.
Reisado Singular
Manifestação tem a participação de toda a família.
(Foto: Dandara Prado)
Por ser um Estado rico em cultura, Sergipe tem em seu histórico grupos folclóricos que seguem a tradição cultural do Reisado. Na cidade de São Cristóvão, por exemplo, existe o grupo de Satu, folguedo que tem como personagens principais o palhaço Matheus, dona Deusa, e o boi. Assim como no reisado de Sabal, os brincantes cantam, dançam, se divertem. A diferença entre o Reisado de Sabal e o de Satu, é a tradição mantida pela familiaridade. Segundo a Professora Aglaé Fontes “Não existe nenhum reisado totalmente familiar quanto ao de Sabal, em Sergipe.’’
Estudiosa da Cultura Popular Sergipana, Aglaé Fontes, informa que não existe um número de Reisados existentes, hoje, no Estado de Sergipe. A professora ainda destaca o motivo do Reisado de Marimbondo resistir ao tempo. “Temos vários Reisados, mas nem sempre os grupos são insistentes como o de Sabal, então qualquer dificuldade, desistem”.
A força de Sabal é o que torna o folguedo tão autêntico. As características próprias do grupo são um símbolo da vontade em continuar uma história, sem renovação, mas acreditando sempre na trajetória cultural cujo objetivo é viver, de forma diferente, o reisado.



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